2007-10-18

António Ramos Rosa


Estou em atraso. Ramos Rosa aniversariou ontem, 17 de Outubro. Agradeço à Moura a centelha que acendeu as emoções. A celebrar o aniversário de alguém, que seja de alguém assim ilustre. Vezes sem conta, ilustre. Nunca o meu! Que da luz recebi pouco. Ilustrado e ilustrador é o poeta. O incansável poeta da tocha acesa: o zeteta. Não podemos adiar um nome. Voltemos hoje a aspirar o seu perfume intemporal.


«Da grande página aberta do teu corpo
sai um sol verde
um olhar nu no silêncio de metal
Uma nódoa no teu peito de água clara


Pela janela vejo a pequenina mão
de um insecto escuro
percorrer a madeira do momento intacto

meus braços agitam-te como uma bandeira em brasa
ó favos de sol


Da grande página aberta
sai a água de um chão vermelho e doce
saiem os lábios de laranja beijo a beijo
o grande sismo do silêncio
em que soberba cai vencida a flor
»

António Ramos Rosa, Nos Seus Olhos de Silêncio (1970)


É um prazer antigo. Uma inquietação. Ler Ramos Rosa e ouvir os nocturnos de John Field (1782 - 1837). Não propriamento o nº 5, mas....

4 comentários:

joao disse...

é bonito,asim como este
DIA-DE VERÃO
Contra a muralha de ar
desfaço os nós da cinza dura
a ânsia larga larga
lucidamente embarco no meu corpo
e no ar
onde mulheres vivas rompem
com o sangue do Verão
rodopiando ancas sonoras
na vertigem direitas contra
a força do ar caindo como uma onda
sobre o sexo que respira violentamente
abertas vulvas felizes na febre fresca
corpos de seda e sede
livres em cada poro que o ar e a luz penetram
desfazendo todos os nós no ar
altas frescas fortalezas

António Ramos Rosa

goldluc disse...

É verdade, João. Belo poema também. Com a marca de quem sempre porfiou em busca do verso perfeito.

Aproveito a ocasião para felicitá-lo pelo «chiado»...uma vez que tem sido difícil comentar directamente. Aqueles concertos (Rachmaninov e Prokofiev) pelo Richter...são obra!!!
Um Abraço!

Anónimo disse...

Agradeço a referência ao meu blog. Os poemas de Ramos Rosa são sublimes...

Uma boa noite, Moura Aveirense

Terpsichore Diotima (lusitana combatente) disse...

Ai meu Deus, a sorte que esta gente tem de se poder dedicar a estas coisas tão bonitas! De poderem gozar de tanta música assim...
enfim, eu bem sei que isto que digo é algo inigmático...