2008-03-27

Alma

"...Rapo da navalha, e vá de tirar forra! Pois querem saber? O sujeito que eu tinha em cima de mim era o meu compadre!...Oito anos de cadeia!...Não está certo!...Então alguém é capaz de acreditar que eu ia matar o meu compadre se soubesse que era ele?...

- O João Rodrigo foi buscar-lhes vinho e comida. Depois de fartos, cantando pareciam outros. A impressão deixada pela narrativa daquelas mortes passou-nos. No escuro das grades, a cantiga abria-se pura e melodiosa. Breve juntámos as nossas vozes às deles. Deixou de haver ali criminosos e não criminosos. Apenas homens que erguiam para a noite uma canção de amor."

Manuel da Fonseca; À Lareira, nos Fundos da Casa onde o Retorta tem o Café.

2008-03-01

'Orage'

Há momentos de tormenta na vida de cada um. Há vidas atormentadas e, a essas, só por ironia chamaremos vidas. Há sempre quem transforme em vida as tormentas de cada dia. Algumas tormentas metafísicas, fundamentais, sem rosto e sem corpo. Essas deixa-as viver a música genial. E sublima-as. Soube-o bem Liszt, pássaro sombrio que se moveu no mundo atrás de alvíssimas mãos, para toda a graça de todas as nossas desgraças. Alfred Brendel, mestre impressionante do feliz decalque artístico, diz Liszt no meio da tormenta, como só os génios o sabem dizer. Repousemos! Retomemos a paz dos dias, pela graça deste bendito Brendel!