2007-11-29

Gaetano Donizetti (1797 -1848)

Há precisamente 210 anos, em Bérgamo, Itália, nasceu o compositor Gaetano Donizetti. Prodígio no seu tempo e admirado no nosso, deixou um legado rico e diversificado de que ressalta essa história tocante de amor e loucura que é Lucia di Lammermoor.
Loucura e tragédia que, segundo rezam as crónicas, o acompanharam ao longo de uma vida relativamente breve. Loucura que o atingiria também a ele próprio, supõe-se que pela doença da época, a sífilis, que teria contraído e o levaria à morte.

Da Lucia fica este espantoso Sextet com a Sutherland à cabeça de um grupo de vozes fabulosas. Ouçamo-las com respeito...como tributo ao compositor de Bérgamo.


2007-11-16

Do Prazer

«O prazer é uma experiência dos sentidos, não difere do puro olhar ou do puro sabor com que um belo fruto nos enche a língua; é uma experiência grande e infindável que nos é dada, um saber do mundo, a plenitude e o esplendor de todo o saber. E que a tenhamos não é mau; o que é mau é quase todos usarem mal e desperdiçarem essa experiência e tomarem-na como excitante nos momentos fatigados da sua vida e como distracção, em vez de concentração, para os pontos altos.
(...)
Pode lembrar-se de que toda a beleza nos animais e nas plantas é uma forma silenciosa e permanente de amor e desejo e pode ver o animal como vê as plantas, unindo-se e multiplicando-se e crescendo pacientemente, docilmente, não do prazer físico, não do sofrimento físico, curvando-se às necessidades que são maiores do que o prazer e a dor e mais fortes do que a vontade e a resistência. Oh, pudesse o homem receber este segredo, de que a terra está cheia até às mínimas coisas, com mais humildade e guardá-lo gravemente e sentir como ele pesa tanto em vez de o tomar com leviandade! Pudesse ele respeitar a sua fecundidade que é só uma, pareça ela espiritual ou física; pois também a criação espiritual arranca da criação física, faz um com ela e é só como que uma repetição subtil, mais arrebatada e eterna do prazer do corpo.»


Rainer Maria Rilke.


Este excerto retirei-o de Cartas a um Jovem Poeta, um encontro recente. Aquilo que me parece uma excelente tradução de Vasco Graça Moura prendeu-me como poucas vezes me vejo. Um conjunto de missivas que são, além de tudo mais, uma lição de bom senso e um tratado de Estética. O excerto é de 16 de Julho de 1903. Por esta altura Gustav Mahler escrevera já a sua 5ª sinfonia (1901-1902). Este adagietto da 5ª, pela batuta de Zubin Mehta, adequa-se na plenitude ao espírito do texto. Parece-me. Eu pelo menos quero fruí-lo assim!

2007-11-10

Bicentenários

Há precisamente 200 anos, o espírito europeu tentou entrar em Portugal. Chegou rapidamente a Lisboa vindo de Paris. Só viaja depressa quem não encontra obstáculos. Do norte 'acudiram', por mar, aos "pobres portugueses".
Com a fenda orográfica da Columbeira de permeio, insultaram-se ingleses e franceses, espanhóis e portugueses. Chegaram a vias de facto na Roliça. E muitos jovens derramaram no solo antiquíssimo o sangue vivo da sua juventude. Há ainda sinais, dores e cicatrizes mais ou menos definidas nas almas dos peninsulares. O que seria de nós sem a 'mãozinha benfazeja' de Your Majesty? A mesma História demorou pouco a responder. A História é isto. Ficam as memórias do reencaminhamento do ser. A dúvida acerca de «o que seria se...?» revela-se sempre sem sentido. Foi. E só o que foi é.


Outros bicentenários (ou os mesmos...) se assinalam sem polémica. O que é realmente grande não alimenta dúvidas. Ludwig van Beethoven (1770 - 1827) compôs, há precisamente 200 anos (naquela época heróica, portanto), a MÚSICA da EUROPA. Compôs a Quinta e a Sexta Sinfonias e esta Abertura maravilhosamente conduzida por Carlos Kleiber.


Daquele rio imenso de inspiração Humana, esta Abertura Coriolano é, sem dúvida, um persistente fio dourado, uma abertura para a expansão do ser novo. Uma abertura como o Sol.


Mas...


(Para a visão catastrófica, desencantada, talvez mesmo irritada com Sua Majestade, ouça-se aqui. Bem alto!)


2007-11-09

Página 161

Obviamente, devo um pedido de desculpas ao João e ao Paulo.
Só posso redimir-me dirigindo-lhes o convite...com um abraço!

Para não parar a corrente ...da «161».

A simpatia da Moura leva-a a estas coisas. É por isso que gostamos dela. Por isso e por muito mais, claro.
O desafio é curioso. Só posso imaginar o que se pretende como produto final. Mas é um desafio e os enigmas estimulam-me.
Pego nas regras (que enunciaria para os meus convidados) e sigo:
- Tomei o livro à mão (o mais à mão, sem escolher!). Saiu-me....
Logos
de António Lopes e Paulo Ruas
(Um manual escolar do décimo ano que alguém deixou na minha mesa de trabalho).
- Abri o "manual" na página 161.
- Procurei a 5ª frase (um enunciado complexo que exprime uma proposição política).
- Transcrevi, ipsis litteris,...
«É claro que, normalmente, os partidários da desobediência civil não pretendem distorcer o sistema democrático mas sim alertar as consciências votantes
- E, para que tudo continuasse, convidaria outros cinco bloggers amigos.
Quis fazê-lo e reparei que todos os meus amigos já participaram neste desafio. Da situação ficou-me um ligeiríssimo desconforto e a certeza de que tenho poucos mas muito bons.
A 'minha' frase surpreendeu-me. As dos amigos também.
Cumprimentos!