Cabezón (1510 - 1566), o músico cego da Imperatriz, “abrilhantou” a bela serenidade da rainha portuguesa. Isabel de Portugal levou a Carlos V e à sua corte imperial, o gosto requintado da música. Manteve junto de si cerca de meia centena de músicos. Atendendo ao registo imortal que nos deixou Tiziano, não lhes faltaria a fonte da inspiração: A beleza da Imperatriz que fascinou o grande senhor da Europa do século XVI, bem como todos os seus súbditos. De tal modo que, após espreitar o seu cadáver, já em avançado estado de decomposição, Francisco de Borja, o Duque de Gandia, foi levado a mudar radicalmente a sua vida. Com isso tornou-se santo. Sophia, a Imperatriz dos poetas, celebra finamente a meditação do Duque:
Nunca mais
A tua face será pura, limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre.
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser.
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência.
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
Sophia de Mello Breyner Andersen; Meditação do Duque de Gandia sobre a morte de Isabel de Portugal.
Nunca mais
A tua face será pura, limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre.
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser.
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência.
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
Sophia de Mello Breyner Andersen; Meditação do Duque de Gandia sobre a morte de Isabel de Portugal.
A Harpa Aoyama é uma 'fantasia' moderna...mas Cabezón soa bem e a Imperatriz teria gostado destas «diferencias» requintadas.
4 comentários:
Primeiro, interessou-me sobretudo o compositor desconhecido. Mas agora que voltei o que me está a interessar é esse poema e o tal Duque que se tornou santo. Será assim? Ter-se-á tornado santo? ....
Olá, Terpsichorde!
Obrigado pelas suas amáveis considerações.
O «tornar-se santo» deve ser sempre contextualizado....tem a ver com o discurso oficial da religião institucionalizada. Deve sempre ler-se desse modo. No entanto, o que aqui é bastante mais significativo, é a emoção (humana) do investimento amoroso de uma vida....a sua falência profundamente sentida...a comoção radical e a mudança: «Não mais servirei senhor que não seja eterno».
A história de Isabel é tocante...merece ser conhecida nos mais ínfimos pormenores disponíveis. Vale mesmo a pena.
...Perdão!
Apesar de a citação, feita de cor, não ferir o espírito, a transcrição correcta do verso que queria referir é:
«Nunca mais servirei senhor que possa morrer.»
Não será esquecida/o, Gold. Chegará o momento certo de eu ''vir a conhecer a história de Isabel, nos pormenores''...
aliás, é neles que se encontra a diferença...
:)
Enviar um comentário