No seu excelente livro Tudo o que é Sólido se Dissolve no Ar (editado em Portugal pelas Edições 70, com tradução de Ana Tello), Marshall Berman aproveita uma frase do Manifesto do Partido Comunista, de K.Marx, para dar título a uma notável análise do espírito da modernidade. No IV capítulo penetra na estrutura da sociedade russa do século XIX e faz um percurso pela importância histórica e social da Avenida Nevski, de São Petersburgo, não só para o desenvolvimento da Rússia, numa época crucial da sua história mas, também, para a compreensão da eclosão da plenitude do espírito da modernidade, ali como em toda a Europa Ocidental. Os anos retratados são anos dramáticos para os povos europeus, para a Rússia mas também para a Itália. As convulsões da história social russa do século XIX pulsarão naturalmente na música dos compositores da época. Glinka e o Grupo dos Cinco (Balakirev, Cui, Mussorgsky, Rimsky–Korsakov e Borodin), entre outros, deixaram bem fixa na pauta a modernidade dramática da alma russa. Mas o ponto de Berman aqui é outro. Ao confrontar-se com um texto de Dostoievski (Notas do Subterrâneo), e com os dramas existenciais do herói do texto, refere, citando em parte:
“ «Sentia-me triunfante e cantava árias italianas» Aí, como em grande parte da grande ópera italiana – que coincide, lembre-se, com as lutas da Itália pela autodeterminação – o triunfo é político e pessoal. Ao lutar, à luz do dia, pela sua liberdade e dignidade, ao lutar não só contra o oficial mas também contra a desconfiança e o ódio que nutre por si próprio, o Homem do Subterrâneo venceu.” (p.246)
De facto, também em Itália se lutava então pela liberdade e pela dignidade de um povo inteiro. O reconhecimento da liberdade ou a luta por ela é um traço profundo da modernidade. Os compositores italianos souberam, como ninguém, deixar marcada na música a emoção e a força desse traço Moderno em confronto com as velhas estruturas sociais opressoras. Verdi deixou-nos o trecho que, muito provavelmente o heróico Homem do Subterrâneo cantou no seu pequeno, mas decisivo, momento de libertação:
EBREI
“ «Sentia-me triunfante e cantava árias italianas» Aí, como em grande parte da grande ópera italiana – que coincide, lembre-se, com as lutas da Itália pela autodeterminação – o triunfo é político e pessoal. Ao lutar, à luz do dia, pela sua liberdade e dignidade, ao lutar não só contra o oficial mas também contra a desconfiança e o ódio que nutre por si próprio, o Homem do Subterrâneo venceu.” (p.246)
De facto, também em Itália se lutava então pela liberdade e pela dignidade de um povo inteiro. O reconhecimento da liberdade ou a luta por ela é um traço profundo da modernidade. Os compositores italianos souberam, como ninguém, deixar marcada na música a emoção e a força desse traço Moderno em confronto com as velhas estruturas sociais opressoras. Verdi deixou-nos o trecho que, muito provavelmente o heróico Homem do Subterrâneo cantou no seu pequeno, mas decisivo, momento de libertação:
EBREI
Va', pensiero, sull'ale dorate;
va', ti posa sui clivi, sui colli,
ove olezzano tepide e molli
l'aure dolci del suolo natal!
Del Giordano le rive saluta,
di Sionne le torri atterrate...
Oh mia patria sì bella e perduta!
Oh membranza sì cara e fatal!
Arpa d'or dei fatidici vati,
perché muta dal salice pendi?
Le memorie nel petto raccendi,
ci favella del tempo che fu!
O simile di Sòlima ai fati
traggi un suono di crudo lamento,
o t'ispiri il Signore un concento
che ne infonda al patire virtù!
va', ti posa sui clivi, sui colli,
ove olezzano tepide e molli
l'aure dolci del suolo natal!
Del Giordano le rive saluta,
di Sionne le torri atterrate...
Oh mia patria sì bella e perduta!
Oh membranza sì cara e fatal!
Arpa d'or dei fatidici vati,
perché muta dal salice pendi?
Le memorie nel petto raccendi,
ci favella del tempo che fu!
O simile di Sòlima ai fati
traggi un suono di crudo lamento,
o t'ispiri il Signore un concento
che ne infonda al patire virtù!
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