Silvestre Revueltas (31 de Dezembro de 1899 – 5 de Outubro de 1940) foi, muito provavelmente, o último filho ilustre do século XIX. Nascido no México em pleno Porfiriato, Silvestre traz no nome o destino dos mexicanos e no sangue uma herança de muitos séculos de dor e esperança cosida com a dignidade de um povo, sistematicamente calcado sob os cascos da desvairada ganância europeia e da vizinhança Yankee.
Da família Revueltas ficou uma paixão notável pela arte pluriforme, com dignos representantes nas suas várias gerações. Silvestre revelou-se cedo como um homem de espírito inquieto e solidário. Absorveu intensamente a luz do novo século e penetrou-o com a energia alimentada na histórica herança de opressão e luta pela liberdade. Combate, com as armas das musas, pela afirmação da sua herança nos anais da história universal e pela humanidade que procura, nos alvores do século XX, perseguir os mais elevados ideais humanos. Esse novo século aspira a realizar plenamente os ideais luminosos anunciados séculos e séculos a fio. Mas….ai, a dor!!
As sombras que nesses tempos cobriam a Europa e o mundo, reagindo ao passo afoito da razão, chamam Silvestre a Espanha. Ao lado dos republicanos esperançosos combate a ameaça tirânica de séculos, estandarte oculto do caudilho que marcha com as botas sujas de sangue sobre o solo da Ibéria.
Consumada a derrota, a sementeira de horror que não mata os ideais mas angustia os espíritos dos jovens paladinos, abate-se sobre Silvestre. A mão que combate a desordem compõe a harmonia e busca a perfeição. Pouco sabemos do combate do corpo, muito nos ficou do sopro atormentado e inspirado: da música e do epílogo trágico do jovem subjugado sob o peso da derrota dos ideais fundamentais. Sabemos também das etílicas viagens que, precocemente, o encaminharam para o fim. Sabemos ainda que os melhores são os que mais alimentam os ideais supremos da razão e que pagam essa audácia com um chamamento a destempo. Os deuses saberão porquê!
De Silvestre Revueltas soa a música eterna que, como o condor do velho mundo, anuncia bem alto que quem alto voa perdura no olhar e na memória, e preserva do esquecimento o que não pode ser esquecido.