2008-07-07

Celebração

A 7 de Julho, há 148 anos, Gustav Mahler (1860 – 1911) percorre a distância do possível ao fáctico e aporta pleno neste mundo sombrio. Mundo agreste e difícil no seu tempo. Não parece ter melhorado muito. Pior seria sem Mahler.
Em 1902, prestes a unir-se a Alma, prestes a terminar a 5ª Sinfonia, compõe este intenso Adagietto. Tanto da alma….tanto do ser….!

Celebremos!


E quem melhor do que Bernstein para celebração tão solene?




2008-07-06

Die zwei blauen Augen

Os dois olhos azuis da minha amada” perdidos para sempre no início da longa e dura viagem. Intensamente reencontrados no luto, à sombra da tília do caminho. No repouso retemperador que proporciona.

«É o luto que desvenda uma dada perda como a perda de alguma coisa que nos preocupa profundamente e de um modo único e como algo que é irrecuperável no seu próprio ser. (…) O luto implica um encontro intensificado com aquilo que é perdido e a nossa relação para com tal coisa, de tal maneira que a sua ausência torna-se um tipo de presença» (Bruce V. Foltz; Habitar a Terra).

Em 1884, o jovem Mahler apaixonado perdera Johanna. Para sempre. É no luto da viagem que a reencontra e se reencontra:

Na estrada há uma tília,
Aí pela primeira vez descansei dormindo!
Debaixo da tília!
As suas flores caíram sobre mim como neve
Não sei como a vida faz.
Então ficou tudo, tudo bem outra vez!
Ah! Tudo bem outra vez
!”

Die zwei blauen Augen
Die zwei blauen Augen von meinem Schatz,
Die haben mich in die weite Welt geschickt.
Da musst ich Abschied nehmen
Vom allerliebsten Platz !
O Augen, blau !
Warum habt ihr mich angeblickt ?
Nun hab ich ewig Leid und Grämen !


Ich bin ausgegangen in stiller Nacht,
In stiller Nacht wohl über die dunke Heide.
Hat mir niemand Ade gesagt,
Ade, ade !
Mein Gesell war Lieb und Liede !


Auf der Straß steht ein Lindenbaum,
Da hab ich zum ersten Mal im Schlaf geruht !
Unter dem Lindenbaum,
Der hat seine Blüten über mich geschneit,
Da wusst ich nicht, wie das Leben tut,
War alles, alles wieder gut !
Alles ! Alles !
Lieb und Leid !
Und Welt und Traum !


Lieder Eines Fahrenden Gesellen - Lied No. 04: Die zwei blauen Augen von meinem Schatz

2008-07-05

Canção do Lamento


Nesta peça de concurso Gustav Mahler (1860 – 1911) descobre-se. Tem então 21 anos e procura afincadamente a sua voz. Os especialistas vêem aqui, sobretudo no início desta primeira parte (depois segunda, uma vez que a primeira, Wäldemärchen, foi retirada pelo próprio compositor por considerá-la redundante) e no final, o fundamental do Mahler histórico.
O compositor que alguns consideram como elemento chave do modernismo inicial, foi apanhado no fogo cruzado de uma guerra que só colateralmente lhe dizia respeito. Entre Wagner e Brahms, o jovem compositor tentava afirmar-se. Vítima do contexto vienense da época, como muito bem o nosso amigo Milton Ribeiro, do PQPBach, essa fantástica "enciclopédia da cena musical erudita" (e em português!!), aqui coloca, Mahler é preterido, em função dos factos estéticos do momento, mas inicia deste modo, com Das Klagende Lied, um percurso genial. Felizmente para as gerações vindouras, herdeiros e fruidores do seu brilhantismo, uma pequena contrariedade em nada diminuiu a vontade do músico. Hoje seria diferente?




2008-07-03

Oh, Luz Originária!

De Gustav Mahler (1860 – 1911) muito se disse e muito mais se escreveu. Há quem considere difícil. Há quem considere fundamental. Há quem ouça. Quem ouça sempre. Quem só ouça. Mahler nunca é demais.

Não há história humana como a aberta pela música de Mahler. Parece que em cada compasso há um marco do regresso a si da humanidade.
Urlicht”, da fantástica Sinfonia nº 2, é um daqueles momentos em que o Homem se vê a regressar a si e se enche desta luz “divina” originária. Divindade tão humana na recusa da vontade: Luz da liberdade definitiva e essencial. “Oh, Rosa Vermelha”, que és sem porquê!

Esta interpretação pode até nem ser tecnicamente a mais conseguida. Tem, no entanto, o valor da própria história da música: o inqualificável Glenn Gould a dirigir a poderosa Maureen Forrester.
Aqui e aqui ficam os links para a extraordinária interpretação de Anne Sofie von Otter, supremamente conduzida por Simon Rattle, e para a substancial interpretação de Thomas Hampson que, no seu contexto, me agrada bastante.

Não há motivo suficientemente significativo para celebrar Mahler senão aquele em que ele é dado a ouvir. E isto é sempre!