2007-06-27

Georg Philipp Telemann






Alguém, de que não obtive a referência exacta, disse um dia acerca de Georg Philipp Telemann (1681 - 1767): «Telemann é um daqueles raros génios que consegue reunir a mestria técnica à inventividade, ao puro bom gosto musical e, acima de tudo, uma capacidade sintétca dos gostos musicais da época, o que o torna um dos maiores compositores da sua época». Parece que com Bach (J.S.), e Händel, o nome de Telemann significava «a música». Nos 240 anos da sua morte recordamos com muito agrado o seu «puro bom gosto musical», felizmente bem apresentado por excelentes executantes do nosso tempo. Flores para o génio!

2007-06-22

Goethe e a Música



Obviamente o título é um exagero. O que se segue não exprime a relação desse enorme vulto da cultura com a música. É um texto literário. Transcrevo-a pelo humor. Goethe era um "tipo com sentido de humor". O texto é gracioso. A tradução é horrível. Darei a referência bibliográfica....para que se cuidem dela. Serviços destes a nossa Língua dispensa. Deleitemo-nos apenas com a graça substancial:



«Senti-me de repente aterrorizado ao ouvir falar em casamento, porque o temia quase mais do que temia a música que, até então, me parecera a coisa mais odiosa deste mundo. Costumava dizer que os músicos vivem pelo menos na ilusão de estarem todos unidos e de tocarem em plena harmonia, porque, depois de passarem um tempo suficiente a afinar os seus instrumentos, dando-nos cabo dos ouvidos com inúmeras dissonâncias, acreditam piamente que acabaram por acertar e que todos os instrumentos estão em plena sintonia uns com os outros. Mergulhado numa felicidade infinita, o próprio dirigente imagina que agora tudo está finalmente bem, inundando contudo os nossos ouvidos com sons insuportáveis. Em contrapartida, nem sequer isto é verdade no matrimónio, porque embora se trate de um dueto e se pudesse pensar que duas vozes ou mesmo dois instrumentos soariam mais ou menos em harmonia, isto é, de facto, extremamente raro. Quando o homem dá o tom, a mulher entoa logo uma nota acima e o homem volta a subir o tom. Os sons moderados passam a sons mais fortes e assim sucessivamente, até que, finalmente, nem sequer os instrumentos de sopro conseguem acompanhar a melodia. Se já não gosto de música harmónica, ninguém me poderá levar a mal o facto de eu odiar a música dissonante.»

Goethe; A Nova Melusina. Tradução [de que é preciso fugir...!] de A. Mosch. Colares Ediora

2007-06-16

Edvard H. Grieg (15 June 1843 – 4 September 1907)




O jovem Edvard da Noruega, empurrado para Leipzig, encontra aí a música de Schumann. Prende-se a ela e aos princípios românticos. Rikard Nordraak, um amigo nacionalista, abriu-lhe as portas do nacionalismo. O floclore da pátria, a "febre" nacional e o ideal romântico estruturaram a maravilhosa síntese artística de Grieg. O escritor e dramaturgo Ibsen, seu compatriota, publica em 1867 o texto dramático que, salvo melhor opinião, concentra em si aqueles traços, o Peer Gynt. Aqui, na forma de suites românticas, Grieg transforma o drama numa viagem maravilhosa pela alma norueguesa.

Celebrar-se-ia ontem mais um aniversário do compositor nórdico. Este ano, a 4 de Setembro, completar-se-ão 100 anos após a data da sua morte. Um século que não deveria ser esquecido. Talvez possamos voltar a ser levados ao universo de Edvard Grieg. Basta que tal centenário seja assinalado como merece. Nós merecemos a sua música e ele merece que o ouçamos e que comunguemos com ele a melancólica brisa fresca dos fiordes que se desprende suavemente da sua música.

2007-06-11

Carlos Seixas





Carlos Seixas (11 de Junho de 1704 – 25 de Agosto de 1742)

Celebrar-se-ia hoje o 303º aniversário de Carlos Seixas (José António, de nome próprio). Seixas é uma daquelas figuras frequentes na paupérrima história da cultura portuguesa. Não, pela cultura, que essa é rica e nada deve ou teme perante as mais diversificadas formas de afirmação de qualquer nação, pela particularidade dos seus valores, dos seus sentires e do seu afirmar-se entre as demais gentes do globo. Também não pelo povo que é ávido de afirmação e capaz de se mostrar condignamente e bem alto por meios e manifestações tão fortes e ricas como quaisquer outras da velha Europa e do mundo. Pobre apenas por não reconhecer, afinal, quem tão bem a defende, a reforça, reaviva e engrandece. ‘Pobre' aqui é um lamento, não um juízo de facto.

Filho do Mestre Organista da Sé de Coimbra (Francisco Vaz), cedo o jovem José António revelou o génio de quem é tocado pelo indicador dourado com que os deuses assinalam os melhores. Ainda jovem coadjuva, e depois substitui, a “eminência parda” do Barroco em Portugal e na Europa rendida aos pés e à música divina de Domenico Scarlatti, então Mestre da Capela Real da Coroa Portuguesa.

Seixas introduz “cultura portuguesa” no Barroco. Não poderemos falar, com propriedade, num “barroco português”, com respeito à música, mas de um movimento cultural barroco, definitivamente enriquecido pela genialidade do excelente cravista e compositor (não só de cravo viveu o artista!) que foi Carlos Seixas. Leveza, suavidade, experimentalismo são predicados que em Seixas vêm iluminar a fonte do barroco italiano, de que é bebedor. A sua música de capela parece extraída do sol que invade as cúpulas dos templos lusos e se deposita docemente, em notas de luz serena, na partitura do mestre cravista português.

Porque hoje faria anos e quem se revela grande e luminoso nos labirintos da cultura, ecoa até das ruínas e dos tormentos, e flui eternamente nos espíritos, como um alento de nacionalidade, aqui se assinala respeitosamente o facto. Com profundo respeito e reconhecimento da dívida imensa. Hoje, um dia depois do numismático delírio belicista e patrioteiro.


2007-06-08

Schumann



















Robert de Zwickau. Nado aí no final da primavera, a 8 de Junho de 1810. Fadado para romance. Direito à arte, à música, à paixão. A música, paixão antiga, revela Clara Wieck, ainda menina. A ansiedade paraliza o génio da acção. Revela o génio imortal da composição.
Robert e Clara: Clássico romance do amor e da loucura.
Ouça-se o amor de Robert por Clara porque «os sons estão para além das palavras»

2007-06-07

Abertura

Tudo sereno. As gatas dormem a sono solto. Uma no tampo da mesa (diria que é pouco confortável....mas é sempre surpreendente a lógica dos felinos!), a outra, a preta de olhos dourados, derrama-se como uma nódoa ocasional no conforto da almofada já gasta. Tudo está sereno. Händel faz-se ouvir pela arte de Gardiner. O Messias, o que ( apesar de todos, dos que não acreditam nunca e dos que acreditam sempre....malgré!...) aí está, abre a sessão do sonho. Pedra e pedra e pedrinha. Brotam da diferença e saltam como gatas azuis nos telhados uniformes da tarde brilhante. As palavras. Hesitantes e ágeis. Abre-se o portal e fixam-se as pedras na travessia do ser, semeadas no ritmo atrás das botas torcidas. Um soprano (extraordinário!) abre e mantém aberto o portal por onde brotarão, semi-nuas, estas lajes da travessia, paulatinas e persistentes. Cá vão!!!